Segurança Pública

Mais um episódio da ‘guerra’ do RJ

Publicado por Site da Segurança

Especialistas em segurança pública analisam incêndio em ‘caveirão’:

Tido quase como indestrutível, o blindado da Polícia Militar – conhecido popularmente nas ruas do Rio de Janeiro como “caveirão” –, foi destruído na terça-feira (6) pelas chamas de coquetéis Molotov lançados por criminosos de uma das comunidades da Praça Seca, na Zona Oeste da cidade.

O episódio ligou o alerta das autoridades de segurança pública, que prometeram reagir à altura, e também chamou a atenção de especialistas. Uns creem em uma possível escalada de violência, outros veem pouca perspectiva de mudança – consideram só mais um episódio de uma “guerra”.

Veja abaixo o que dizem os analistas.

Para Daniel Hirata, que é sociólogo e coordenador do Grupo de Estudo dos Novos Ilegalismos (Geni) da UFF, o episódio é alarmante.

“As cenas são lamentáveis, mas emblemáticas de como tem havido uma escalada nos confrontos entre policiais e grupos armados, de forma cada vez mais letal e militarizada. É necessário que tenhamos alternativas para uma ‘desescalada’, já que conflitos armados no Rio têm essa característica: à medida que alguém aumenta a intensidade do confronto, isso produz mais armas e mais enfretamento”, diz Hirata.

O sociólogo não é contra as operações policiais em territórios conflagrados, mas acredita que só esse tipo de ação não basta para uma solução realmente efetiva contra grupos criminosos.

“A realização de operações policiais é necessária, mas seria importante também um direcionamento para outras áreas, como a regulação de mercados urbanos e investigações que permitam um maior conhecimento de agente públicos que colaboram para a atuação desses grupos. Isso teria ação efetiva para o desmantelamento das redes criminais que sustentam esses grupos”, diz Hirata.

Ignacio Cano, que é doutor em sociologia e Coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, não acredita que o episódio vá mudar algo no combate à violência no estado.

“Acho que, a princípio, não muda grande coisa. Já houve muitas tentativas de atacar os caveirões de diversas formas. Dessa vez, tiveram sucesso, mas não acredito que isso mude o paradigma. Os caveirões já enfrentaram muitos obstáculos, pneus furados, barreiras, etc. Eles não são invencíveis. Para mim, é mais um episódio da ‘guerra’ que o Rio de Janeiro vive faz muito tempo”, diz.

O diretor das Delegacias Especializadas da Polícia Civil, Felipe Curi, postou em suas redes sociais que o episódio demonstra como criminosos estão empoderados, e a polícia tem restrições para atuar.

“Criminosos cada vez mais ousados, cheios de garantias e se sentindo empoderados. Enquanto isso, a polícia cada vez mais limitada e com várias restrições para atuar. A conta vai chegar e será salgada. Já vemos os sinais. A polícia não dá causa a essas aberrações, mas é a única que lida com suas consequências. Não acreditem em narrativas antipolícia”, escreveu.

A origem do ‘Caveirão’

A ideia de um veículo blindado para atuar e dar suporte em terrenos conflagrados existe desde 1992. O primeiro modelo de “caveirão” não era exatamente blindado, mas um carro com uma chapa blindada, que dava apoio aos policiais durante operações.

O primeiro modelo próximo ao formato do que conhecemos hoje surgiu nos anos 2000, e tinha capacidade para transportar policiais. Ganhou também o símbolo do Batalhão de Operações Especiais (Bope), uma caveira – daí o apelido.
Em 2008, com o início das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), foram pintados de branco para tentar tirar o estigma do carro como símbolo de violência – e passar a ideia de paz.
Outros caveirões já foram atacados a tiros e com coquetéis Molotov no Rio, mas esta é a primeira vez que esse tipo de veículo terrestre foi completamente destruído. Outro blindado já havia sido abatido, mas era aéreo. Em 2016, o um helicóptero da PM foi derrubado por traficantes da Cidade de Deus.
O veículo blindado foi retirado na manhã da quarta-feira (7), com perda total. Policiais que estavam na viatura inalaram fumaça, foram atendidos no local e não precisaram ser hospitalizados.
Fonte: Por Eliane Santos, g1 Rio
08/06/2023 

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