Opinião do Especialista

Inteligência aplicada em segurança pública (Vinícius Cavalcante)

Publicado por Vinícius Cavalcante

Ontem ao me deparar com a foto de capa do O GLOBO  onde, de um helicóptero se jogava panfletos sobre a Rocinha, lembrei-me da obra de Sun Tzu, A Arte da Guerra, repleta de referências de ações de inteligência, particularmente uma delas que sintetiza a o sentido daquilo que se conhece por OPERAÇÕES PSICOLÓGICAS: “Lutar e vencer todas as batalhas não é glória suprema. A glória suprema consiste em quebrar a resistência do inimigo sem lutar”.

Desde que o homem aprendeu a comunicar-se, vem utilizando a persuasão e outras formas de influência para modificar emoções, opiniões, atitudes e comportamentos de grupos ou pessoas. Uma campanha de operações psicológicas é uma guerra da mente onde as principais armas são a imagens e sons. A arma não é forma empregada para difundir a mensagem, mas a moral que ela carrega e como isso vai afetar o destinatário. Logicamente que, para se alcançar tal objetivo, é importante saber exatamente como o alvo pensa, suas crenças e valores, de forma poder escolher como a mensagem lhe deverá ser remetida, compreender o efeito que a mensagem fará etc.

Operações Psicológicas são um conjunto de ações de qualquer natureza, destinadas a influir nas emoções, nas atitudes e nas opiniões de um grupo social, com a finalidade de obter comportamentos predeterminados que venham ao encontro de nossas necessidades ou de nossa vontade. E nossa vontade será, quase sempre, a de “quebrar a resistência do inimigo” com o mínimo de desgaste, de baixas, dispêndio de meios, danos colaterais etc.

Tais ações variam desde as mais simples e aparentemente banais, até as mais complexas. As Operações Psicológicas são o uso técnico e planejado de uma comunicação especialmente elaborada para influenciar atitudes e comportamentos, criando, nos grupos-alvo, comportamentos, emoções e atitudes que apoiem a realização dos objetivos que se busca alcançar. O meio empregado para veicular essa comunicação varia desde a disseminação da informação “boca à boca”, até o emprego de rádio, tv, outdoors, publicações em papel, publicações em redes sociais etc.

A propaganda é a grande ferramenta das Operações Psicológicas e procura influir em convicções profundas, tal como a decisão de abandonar a luta e render-se, deixar de apoiar um lado numa disputa etc. Tais ações de inteligência, quando bem planejadas e conduzidas podem trazer preciosos dividendos; contudo esse retorno nem sempre é rápido.

Na Segurança Pública, as Operações Psicológicas devem ser práticas permanentes, planejadas desde os momentos de tranqüilidade e continuamente realimentadas a partir de constantes avaliações, antecipando-se aos momentos de crise e de enfrentamento das hostes criminosas. As Operações Psicológicas visam enfraquecer ou derrotar os criminosos sem o emprego da força policial coercitivamente.  Elas devem ser empregadas em associação com outras medidas operacionais de segurança a fim de negar aos criminosos a liberdade de ação e o poder a que estão acostumados. São um facilitador, da ação das forças de segurança que vai diminuir o risco das operações policiais, concorrer para a manutenção de um fluxo de informações que alimente a inteligência policial, diminuir as eventuais baixas civis etc. No âmbito da segurança pública do Rio de Janeiro, elas se inserem no contexto da retomada de territórios anteriormente dominados pelo tráfico e podem ajudar a verter antigas comunidades, anteriormente dominadas, para o lado das forças de segurança. Os analistas de inteligência sempre duvidaram  de uma pacificação territorial sem a implementação de operações psicológicas e – sobretudo – sem sua manutenção em caráter permanente.

Vejamos os objetivos gerais das Operações Psicológicas no âmbito da Segurança Pública:

  1. Difundir a imagem e os melhores esforços que vem sendo levados a cabo pelas forças de segurança;
  2.  Angariar o apoio à política de segurança pública, bem como para as forças de segurança do Estado;
  3. Fortalecer a vontade popular no enfrentamento do crime e da violência, prestigiando os policiais e elevando o moral dos efetivos de forma permanente;
  4. Influenciar a população contra os criminosos, comprometendo a sua perspectiva de contar com apoio local, intranqüilizando os bandidos de forma permanente, mesmo naqueles locais que tinham como sob seu controle;
  5. Enfraquecer, a vontade dos grupos criminosos, abalando-lhes o moral e comprometendo seu recrutamento e adesões;
  6. Influenciar a opinião pública sempre favoravelmente às forças de segurança.

Não há como realizar tais ações de inteligência sem buscar uma articulação com os órgãos de mídia no sentido de que os mesmos possam colaborar veiculando matérias em consonância com objetivos de segurança pública ou mesmo conscientizando o cidadão com medidas de prevencionistas e de auto-proteção, tornando as pessoas alvos menos fáceis da criminalidade.

Vale ressaltar que combater com inteligência não é privilégio das forças de segurança. Os criminosos também procuram conduzir sua guerra com astúcia e mesmo com uma estrutura de comando muito mais enxuta do que a do Estado, eles planejam e levam a cabo uma série de ações para comprometer a imagem da polícia, distorcendo e manipulando a realidade, veiculando inverdades na mídia, nas redes sociais, ou mesmo agindo no terreno para que as forças de segurança sejam levadas à pratica de excessos contra a população que lhes sejam prejudiciais. É facilmente perceptível o esforço para retratar os policiais como assassinos, vândalos, opressores sem qualquer apreço pelos direitos dos cidadãos que residem em áreas carentes etc.

Como uma forma de assegurar o apoio e a colaboração da população na prevenção de ações da criminalidade, as Operações Psicológicas também podem produzir folhetos, cartilhas, mini-manuais ou vídeos instrutivos, que auxiliem o cidadão no gerenciamento de sua própria segurança e de seus ambientes, lhe proporcionando aconselhamento técnico abalizado para o enfrentamento das ações da criminalidade nos mais diversos cenários.

Nossos traficantes de drogas, hoje, agem como uma bem articulada guerrilha, e isso praticamente inviabiliza o emprego de táticas tradicionais e de uma legislação incapaz de atingi-los. Já deveríamos tratar o contencioso com os nossos narcotraficantes, não como uma ação repressiva de policiamento ordinário, mas como uma contra-insurreição, onde os grupos de bandidos bem armados agem clandestinamente e são, de fato, a guerrilha que se busca erradicar. Num enfrentamento dessa natureza, não há como menosprezar o grande e inestimável apoio que as Operações Psicológicas em Segurança Pública podem nos proporcionar.

Sobre o autor

Vinícius Cavalcante

VINICIUS DOMINGUES CAVALCANTE, CPP
Profissional de segurança desde 1985. Detém 25 cursos e estágios na área de segurança e inteligência, tendo participado de treinamentos na Colômbia e também na Grã-Bretanha. Atua como consultor em segurança nas áreas de planejamento e normatização, inteligência, segurança pessoal e treinamento. Foi um dos profissionais internacionalmente certificados pela American Society for Industrial Security (www.asisonline.org) no Brasil, sendo certificado em 2004.
Diretor regional da Associação Brasileira de Profissionais de Segurança (www.abseg.com.br) no Rio de Janeiro, há 26 anos integra a diretoria de segurança da câmara municipal do Rio de Janeiro como servidor público concursado. É membro do conselho de segurança da Associação Comercial do rio de Janeiro. Atua na segurança de pessoas de notável projeção bem como treinou efetivos de segurança pessoal de diversas instituições públicas e privadas. É instrutor convidado em cursos na PMERJ, ACADEPOL (RJ), SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA E CENTRO REGIONAL DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A PAZ, o desarmamento e o desenvolvimento social na América Latina e Caribe (UN-LIREC). É articulista em publicações especializadas em segurança do Brasil e do exterior, como o Jornal da Segurança, as revistas Proteger, Security, Segurança Privada, Revista Sesvesp, Segurança & Defesa, Tecnologia & Defesa no Brasil, bem como Seguridad Latina e Global Enforcement Review e Diálogo Américas, nos Estados Unidos, e International Fire and Security.
Possui artigos sobre segurança publicados nos jornais o Globo e Monitor Mercantil. Autor de três DVDs com video-aulas sobre segurança abordando segurança de dignitários, ocorrências envolvendo artefatos explosivos e espionagem e contra-espionagem no meio empresarial, produzidos e distribuídos pelo Jornal da Segurança para todo o Brasil.

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